quinta-feira

carcaça

o brasil acabou, mas nós não acabamos
segue a doença no sangue,
nós seguimos correndo dentro dela
ele dentro de nós
uma idéia que morre, sem nunca ter realmente nascido
todo o ódio gerado não consegue fazer uma guerra declarada
o pior cego é o que pisca o olho na hora da morte
do tiro

papel de cem anos, narizes fungando o pó da história
não há redenção possível pra nenhum de nós,
não há bodes suficientes,
seguimos arrastando a carcaça, seguimos consumindo a carcaça
um rosto tão belo com o corpo devorado,
a bela carcaça segue sendo puxada, o músculo distendendo,
esgarçando,
a carcaça somos nós, cada carcaça um desgraçado, míope, cego,
a carcaça é esse mar à nossa frente, as montanhas ao redor

pisca-pisca, pisca-alerta, pisca-otário, dorme cinderela,
deitada eternamente na mortalha do ipiranga,
nada adiantou, afundemos então no mar de merda e ódio
esse é o limite da nossa compaixão, da nossa integridade
nossa definição de civilidade

discursos, discursos, discursos
há uma tese escondida em alguma garrafa que
provavelmente já foi quebrada na cabeça de alguém

terça-feira

lugares pra se esconder

vivi a vida dos filmes
lugares pra criar o meu
me formar
encontrei esquizóides mais verdadeiros
e os incorporei
cada ilusão adaptada, inoculada
quem fui, me escondendo
quem sou, me descobrindo
é o que procuro tateando

na sala escura.

[2002]

jimi & a banda sunshine

do céu ao inferno do inferno ao céu

transitando
de hendrics a kc e os raios solares

do you wanna go party, foxy lady
shake your booty & let me stand next to your fire
i'm your boogie man, purple haze me

winamp power desorbitando nas caixinhas pretas
subwoofer vibrando os pés
a vizinha surda e fanática de touca esperando a visita do lobo,
diz alguma coisa bill bonner
gotas de chuva no teclado e nas lentes
armando a nova playlist, m3u infernal suspendendo o tempo
gotas teclas reflexos fumaça
that's the way i like it
love or confusion?

drowned manic depression,
are you experienced?
i don't live today, man
shut up & sound your funky horn

sábado

no frio

entrei no bar, sentei no balcão e esperei.
a fumaça começa a irritar meus olhos.
bebo; sinto que estou perto da verdade não-alcoólica.
velocidade.
não pretendo chegar, sei.
existe medo no espírito (da verdade).
qualquer história tem que ser longa (psicologicamente longa).
isso está batendo na minha cabeça.
o barman começa a ficar mais longe.
levanto e procuro uma mesa.
sento com o copo na mão.
história recente da humanidade?

O pequeno Rub foi ao futebol outro dia com seu pai.
Pequeno Rub: “eu nem vi o jogo muito bem, eu tava tomando sorvete.
Aí, no fim do jogo, eu subi a arquibancada de madeira e fiz xixi
na cabeça das pessoas que tavam saindo do jogo, lá embaixo.”


eu estou aqui sentado há uma meia hora e ninguém veio atender.
talvez aqui esteja muito escuro, sem dúvida que está.
que se foda então.
levanto e deixo o bar.
o ar frio da rua entra rasgando.
fico sóbrio.
(logo)



[1990]

segunda-feira

blog crash musik

seven dead in dr congo
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plane crash killed related stuff radio said
come east and get time
definately going to check it out
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crash time dr congo
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[msg para miró: fazer uma e-musik com vocal megafone tipo the fall em free range, batida asian dub e letras sampler dos comments psycho-span-anonimous que infestam as águas]

pra que serve ser destro

Tenho pensado muito
em revólveres. Armas. Fico
supondo o peso de uma
45 automática, pente cheio,
na mão. O destino é
quase sempre a têmpora
direita. Pra que serve
ser destro?
Ele morreu assim. Meu
amigo André. Destro. Magro,
velho e com o sangue entorpe
cido de bola, isso foi antes,
outra suposição. Enxotou a
mãe e o marido, um disco
de Vivaldi na vitrola
e um 38 na mão. O tiro
entrou na música, dez anos
depois estou pensando, o
disco acabou e continuou rodan
do, pulando, o corpo caiu,
a vida acabou, o revólver
oblíquo separou-se da
mão e dos dedos inúteis.
“Estou com 48 anos”, ele me
disse, barbudo, antes.
Tinha 23.


[1999]