quinta-feira

carcaça

o brasil acabou, mas nós não acabamos
segue a doença no sangue,
nós seguimos correndo dentro dela
ele dentro de nós
uma idéia que morre, sem nunca ter realmente nascido
todo o ódio gerado não consegue fazer uma guerra declarada
o pior cego é o que pisca o olho na hora da morte
do tiro

papel de cem anos, narizes fungando o pó da história
não há redenção possível pra nenhum de nós,
não há bodes suficientes,
seguimos arrastando a carcaça, seguimos consumindo a carcaça
um rosto tão belo com o corpo devorado,
a bela carcaça segue sendo puxada, o músculo distendendo,
esgarçando,
a carcaça somos nós, cada carcaça um desgraçado, míope, cego,
a carcaça é esse mar à nossa frente, as montanhas ao redor

pisca-pisca, pisca-alerta, pisca-otário, dorme cinderela,
deitada eternamente na mortalha do ipiranga,
nada adiantou, afundemos então no mar de merda e ódio
esse é o limite da nossa compaixão, da nossa integridade
nossa definição de civilidade

discursos, discursos, discursos
há uma tese escondida em alguma garrafa que
provavelmente já foi quebrada na cabeça de alguém