sexta-feira

DDIs 57: as far as

19.2
Começa com um grito. O grito mais alto, o mais desesperado. Nada muda depois desse grito. O chão e o teto continuam sustentando as paredes, ou o contrário, para quem grita o que importa é se quebram, rompem, caem ou não. Não caem. Talvez algo mude. É possível que aquele que grita mude depois do grito, mas isso é apenas uma possibilidade. O corpo está estirado no chão. Depois do grito não há nada. O corpo está vazio, exaurido. Da cozinha da casa caminha devagar um ruído de água caindo. Pode ser a torneira da pia, ou algo assim. O corpo estirado tem os olhos fechados e agora está apreciando a sensação de vida que as veias pulsando e o sangue atravessando o corpo lhe dão. Antes, houve o pensamento da faca, mas a lãmina permaneceu gelada e indiferente. A carne tampouco se moveu. A faca é um grito silencioso, falta explosão à lãmina. Desespero e exaustão são coisas distintas. Começa com um grito, um grito de súplica que concentra toda a frustração cultivada no corpo (pelo que vem de fora e pelo que come por dentro).


[dj cheb i sabbah com "as far as";
só isso.]