segunda-feira

cinemalimbo


céu b&w (samplereffects matafina, photo miró)

depois que ela se foi eu me recolhi e me encolhi dentro
do meu casco do meu cobertor do meu abrigo seja ele
qual for que nome tiver assim como me chamo me
chamam de um nome ou mais são vários os referenciais
os habitantes dessa forma que em nada se assemelha com
um prisma mas que reflete intensidades distintas para
dentro ou para fora ou ainda para o vácuo esta ausência
este limbo cinema onde me concentro para enxergar formas
aduncas se multiplicando se transformando se enfronhando me
transformando numa espécie de casa de espelhos iluminada
por luz mortiça uma música de sons giratórios um tipo de
giroscópio um farol dentro da casca

podendo falar sobre os olhos escuros e sombrios dois
poços de águas turvas e nada plácidas prefiro lembrar
as unhas compridas e os sulcos nas minhas costas perdido
numa piscina de sombras meu sinal não encontra receptor
acabo sem saber se sou ou se minha sombra é e se não sei
nem qual é a minha imagem dançante sem corpo sem
carne mas isso que me envolve os ossos talvez nem
matéria seja algum tipo de fantasmagoria e se não estou
aqui onde deveria aqui no que projeta aquela que deve ser
minha sombra então sou qualquer uma nenhuma ou todas
cada movimento é um meu movimento

trumpete ensandecido na noite seu beijo é a base é o baixo
pulsando a origem de mim as sombras o sopro segue costurando
meu cinemalimbo povoado de idéias tirando a noite do breu para
um outro tipo de escuro outro tipo de sombra se é a noite um reflexo
e não o princípio eu o cinevácuo fecho os olhos tragando para dentro
as imagens para dentro da noite encerrada nas pálpebras flutuando
sobre o adormecimento do ritmo flutuando dentro do teu beijo o baixo
a base do meu ritmo pulsando sombras dissolvidas por falta de contraste
estamos na noite nos movimentando em toda e qualquer imagem que se
dissipe

[1995]

3 Comments:

Blogger Vânia Vidal said...

Bom... primeiramente, o texto é primoroso, Mr. Kaspar. Quanto ao vício, eu admito,pulei para a trans-borda (e não fora exatamente), retiro precário que não se parece nem um pouco com uma casa. Não é, mon coeur?

08 março, 2006 16:16  
Blogger kaspar said...

gracias, mme. v.v.
esqueci de dizer que o problema é na maioria da vezes o vício deixa seqüelas complexas.

09 março, 2006 12:09  
Blogger Vânia Vidal said...

Pois é. Mas essa é que é a parte boa.

09 março, 2006 16:43  

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