sexta-feira

trem ii



e o som do trilho acompanhava os pensamentos sonolentos, colocando o que não era música fora de compasso
)permita apresentar-me, sonambúlica figura, eu que vivi entre as cobras e outros organismos anfibióticos e reptilianos e agora estou provendo de sonhos boa parte dos transeuntes temporários deste palácio de sombras, e você querendo perguntar quem serei quando precisar, eu estive com o divino ser, você deve imaginar, providencinado quedas e tombos e castigos testamentais, você só queria escrever um belo romance e eu me infiltro anestesiando sua vontade com nuvens diversas, ah! pequeno escravo da fumaça, conspícuo diletante da névoa, aqui estamos para sempre(
os ruídos, os ruídos, são ratos pequenos, ratinhos remoendo meu espírito, apenas ratinhos fazendo seu trabalho de roedores, roendores, percebe? o trocadilho envolvido?, sim, sim, muito instrutivo, eu diria se olhasse o mar com olhos argutos, mas o que minha pálpebra cobre é uma esfera envolta em ar espesso, um óculos embaçado e imaterial, o som ofídico me perseguindo, esta ou essa é a história da perseguição esquizóide, socorro!!, porque no fim descubro sempre ser eu a serpente, adão, eva, caim, abel e sua mãe também,
foi no dia em que ela me disse que eu era eu, quer dizer, o eu dela, o eu que ela sempre quis para completar o outro eu que ela tinha dentro dela mesma, quer dizer, essa é a verdadeira essência, não é?, crer que o outro é também, mais, principalmente, fundamentalmente, um eu e não um outro, e sendo assim, a perfeição amorosa absoluta
perdi o fio e os ratinhos também de maneira perfeita não deixam traço algum da corrosão, são apenas ruídos, querido, não se deixe levar pela sombra, eu ouço os seus ruídos que também são os meus e neles há sobretudo amor e beleza
é preciso, antes de mais nada, estabelecer um critério, ele me disse com relativa tranqüilidade, algo invejável para alguém como eu, eu sendo eu mesmo e não ela naquele momento, mas como não sê-la, não é?, de acordo com o princípio somos todos eus desdobrados ou curvilíneos sou ela, elas, sempre fui você, inclusive, mas como estabelecer critério de ou para qualquer coisa?, digo, antes de mais nada é preciso muita calma, sentir o peso do transtorno ir desocupando lentamente seus músculos, suas pernas, seus ombros, sua nuca, seu coração, e por fim, seu espírito, outra baforada de um cachimbo malcheiroso, nada entende de fumaça, observo, fumos doces são a derrocada da sensibilidade aguda, é como preferir praias de água morna a orlas de água fria, alma sedentária, e deus preferia os nômades, está escrito, eu digo, quer falar de mim, como falar do que não se sabe
no sábado era aniversário de uma coleguinha da escola, fomos os três, ela mais linda que nunca, o que fazer com a perfeição?, eu preciso ser louco



[set.2001]

1 Comments:

Blogger Ariadne Costa said...

Caim? É você?

05 março, 2006 03:06  

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